sábado, 14 de julho de 2012

Criança precisa brincar para ser adulta


Preocupados com o aperfeiçoamento técnico e o desenvolvimento dos filhos, os pais acabam enchendo as crianças de tarefas extra-curriculares como aulas de natação, de línguas estrangeiras, balé e judô, sem saber que a atividade mais completa para elas é o simples ato de brincar. “É impossível brincar e não aprender alguma coisa. São duas coisas sem dissociação”, diz a representante da Associação Brasileira de Brinquedotecas em Curitiba e coordenadora da brinquedoteca da Associação Serpiá, Ingrid Cadore.
Especialistas em educação afirmam que brincar é importante para a criança porque, além de desenvolver os aspectos físico, mental e emocional, é assim que ela aprende a ser adulta. “O brincar é essencial para a formação da criança porque ajuda na estruturação emocional”, diz a educadora brinquedista e coordenadora da brinquedoteca Clube da Brincadeira da Escola Anjo da Guarda, em Curitiba, Maria Cristina Pires.
Segundo ela, cada brincadeira traz um tipo de enriquecimento para a criança. Ela aprende a ter auto-estima, a lidar com sentimentos como a frustração, o medo e a manutenção da esperança. “Quando se tira da criança o tempo de brincar, se tira a oportunidade de ela aprender a perder, a ganhar sem que isso seja a coisa mais importante do mundo. E esses aprendizados emocionais são absolutamente importantes para se viver com equilíbrio na vida adulta, saber lidar com a frustração, ser perseverante”, revela.

Ao brincar com outras crianças, ela entende como funciona o mundo, o que são e como funcionam as regras, que a liberdade de um termina onde começa a do outro. “Principalmente com os jogos em grupo. Porque no jogo a própria criança se avalia. E ela percebe que a regra pode ser questionada, negociada, mudada, desde que se converse com os coleguinhas e eles também queiram experimentá-la de uma outra forma”, ressalta Ingrid.

Uma outra vantagem da brincadeira é tornar a criança mais experiente e pronta para enfrentar situações adversas no futuro. Maria Cristina explica que crianças que brincam se tornam resilientes, ou seja, se tornam adultos que saberão lidar com as adversidades e se manter fortes depois de enfrentá-las. “Nos estudos feitos, o brincar é um dos fatores que tornam os alunos mais resilientes. Criança que não brinca pode estar preparada tecnicamente, mas quando adulto vai ter dificuldade em trabalhar em equipe e em lidar com adversidades”, ressalta.
Mas Ingrid faz um alerta. Segundo ela, hoje o brincar, principalmente na escola, passou a ter a finalidade de ensinar outros conteúdos como inglês, matemática e informática. “As crianças pararam de brincar pelo brincar. E isso é sério, porque na hora em que se brinca sem compromisso, ela trabalha com conteúdos emocionais dela. Muitas vezes brincando, no faz de conta dela, está pondo muita coisa para fora e pensando a respeito”, comenta.

Apesar de até os 7 anos de idade brincar ser tão fundamental quanto a nutrição, a saúde e a educação para as crianças, Ingrid ressalta que essa é uma atividade da qual nenhuma pessoa deve abrir mão. “O jogar, na adolescência, possibilita a espontaneidade, o relacionamento com pessoas do outro sexo. Na vida adulta pais e filhos que jogam e brincam estreitam e aprofundam laços de afeto. Sem falar na convivência social e a atividade mental que jogar representa para os idosos”, diz.
Na próxima quarta-feira, dia 28, será celebrado o Dia Mundial do Brincar, em que pais são estimulados a parar um pouco para brincar com seus filhos. “Brincando, eles estão estreitando laços, estabelecendo vínculos de confiança, falando sobre questões da vida de uma forma lúdica e, principalmente, se divertindo. E a criança nunca vai esquecer. Essa é uma herança que o pai e a mãe estão deixando para ela”, ressalta Ingrid.



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